Foi um dia difícil para Mariana. Na verdade, uma semana bem
mais complicada que o normal. Ela sentia que cada hora, cada minuto que passava
era um teste de resistência. Resistência aos caos que ela se encontrava.
Aquela sexta-feira amanheceu nublada, sem uma luz para
alegrar o seu dia. Mariana já estava se acostumando com tantos tropeços. A
indiferença começava a tomar conta do seu pensamento, e aquelas nuvens negras
no céu pareciam formar o cenário perfeito para sua semana sombria.
Enfim, mais um dia ia terminando, e com ele, mais um ciclo
se encerrava. Mas será que sua alma permaneceria assim para sempre, em meio a
tantas sombras? – Se perguntava Mariana. Ela notara que um sentimento estranho
vinha fazendo parte do seu corpo. Era como se estivesse esquecendo algo. - Mas
o quê? Mesmo sem saber exatamente o que havia perdido, Mariana resolveu sair
para procurar.
Caminhando pelas ruas, Mariana percebeu como ventava naquele
final de tarde e como era bom sentir aquela brisa tocando com tanta delicadeza
seu rosto e cabelos. Ela então percebeu como sentia falta do vento. Mariana
olhava ao seu redor, e começou a reparar nas construções da sua rua. Reparou
que agora havia uma academia ali onde ela costumava comprar seu pão quentinho,
e que muitos dos seus vizinhos estavam com carros diferentes, novos. Reparou também,
que o piso da calçada havia sido trocado, e que agora, ficava mais fácil
caminhar sem tantos buracos. Enquanto caminhava, Mariana percebeu que a calçada
bonita começava a ser pintada com diversas bolinhas. Sim, bolinhas de tamanhos diferentes.
A indiferença tinha tomado conta de Mariana, por tanto
tempo, que ela se esquecera como era bom o toque da chuva em sua pele. Mariana
caminhou sem rumo naquele fim de tarde, curtindo a chuva e a brisa que ela
havia deixado de lado por tanto tempo. Ao chegar em casa, percebeu que, assim
como o piso novo da rua, ela também estava cheia de bolinhas. E aquela sensação
de que tinha esquecido algo havia passada.
Foi então que tudo ficou claro. Agora ela sabia. Tudo fazia
sentido. Ela esquecera por muito tempo de observar, de sentir, de viver. Ela
esquecera o quão bom era o acaso e suas alegrias. Mariana não precisava de mais
nada para se sentir completa, apenas viver e se pintar de bolinhas
esporadicamente.